Trecho de entrevista de São Josemaria Escrivá, Fundador do Opus Dei, concedida a Pilar Salcedo, Diretora da revista feminina Telva (Madri, Espanha), em 1º de março de 1968.
Na homilia que pronunciou em Pamplona no mês de outubro passado, durante a Missa que celebrou por ocasião da Assembléia dos Amigos da Universidade de Navarra, o senhor falou do amor humano com palavras que nos comoveram. Muitas leitoras nos escreveram comentando a impressão que sentiram ao ouvi-lo falar assim. Poderia dizernos quais são os valores mais importantes do matrimônio cristão?
Vou falar de uma coisa que conheço bem, e que é da minha experiência sacerdotal, de muitos e em muitos países. A maior parte dos membros do Opus Dei vive no estado matrimonial e, para eles, o amor humano e os deveres conjugais fazem parte da vocação divina. O Opus Dei fez do matrimônio um caminho divino, uma vocação; e isto tem muitas conseqüências para a santificação pessoal e para o apostolado. Há quase quarenta anos que venho pregando o sentido vocacional do matrimônio. Que olhos cheios de luz vi mais de uma vez quando — julgando eles e elas incompatíveis em sua vida e entrega a Deus e um amor humano nobre e limpo –, me ouviam dizer que o matrimônio é um caminho divino na terra!
O matrimônio existe para que aqueles que o contraem se santifiquem através dele: para isso os cônjuges têm uma graça especial conferida pelo sacramento instituído por Jesus Cristo. Quem é chamado ao estado matrimonial encontra nesse estado — com a graça de Deus — tudo o que necessita para ser santo, para se identificar cada dia mais com Jesus Cristo, e para levar ao Senhor as pessoas com quem convive.
Por isso penso sempre com esperança e com carinho nos lares cristãos, em todas as famílias que brotaram do Sacramento do Matrimônio, que são testemunhos luminosos desse grande mistério divino — sacramentum magnum! (Ef 5, 32), sacramento grande — da união e do amor entre Cristo e a sua Igreja. Devemos trabalhar para que essas células cristãs da sociedade nasçam e se desenvolvam com ânsia de santidade, com a consciência de que o sacramento inicial — o batismo — confere já a todos os cristãos uma missão divina, que cada um deve cumprir no seu próprio caminho.
Os esposos cristãos devem ter a consciência de que são chamados a santificar-se santificando, de que são chamados a ser apóstolos, e de que seu primeiro apostolado está no lar. Devem compreender a obra sobrenatural que supõe a fundação de uma família, a educação dos filhos, a irradiação cristã na sociedade. Desta consciência da própria missão dependem, em grande parte, a eficácia e o êxito da sua vida: a sua felicidade.
Mas não esqueçam que o segredo da felicidade conjugal está no quotidiano, não em sonhos. Está em encontrar a alegria escondida de chegarem ao lar; no trato afetuoso com os filhos; no trabalho de todos os dias, em que toda a família colabora; no bom-humor perante as dificuldades, que é preciso enfrentar com esportividade; e também no aproveitamento de todos os avanços que nos proporciona a civilização, para tornar a casa agradável, a vida mais simples, a formação mais eficaz.
Àqueles que foram chamados por Deus para formar um lar, digo constantemente que se amem sempre, que se amem com aquele amor entusiasmado que tinham quando eram noivos. Pobre conceito tem do matrimônio — que é um sacramento, um ideal e uma vocação — quem pensa que a alegria acaba quando começam as penas e os contratempos que a vida sempre traz consigo. Aí é que o amor se torna forte. As enxurradas das mágoas e das contrariedades não são capazes de afogar o verdadeiro amor: une mais o sacrifício generosamente partilhado. Como diz a Escritura, aquae multae —- as muitas dificuldades, físicas e morais — non potuerunt extinguere caritatem (Ct 8, 7) — não poderão apagar o carinho.
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