segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A JMJ, um novo Damasco

 

 

Faltam poucos dias para que Madri acolha a centenas de milhares de jovens. O Prelado do Opus Dei recorda o que esta cidade foi para São Josemaria: um lugar de conversão e encontro com a vontade de Deus.


01 de agosto de 2011 - Alfa y Omega


 

 

Saulo de Tarso, cheio de zelo pela lei de Moisés, levava cartas expedidas pela autoridade mais alta do judaísmo, destinadas às sinagogas de Damasco, com o fim de levar detidos para Jerusalém aos que encontrasse, homens e mulheres, seguidores do Caminho. O Senhor, no entanto, não lho permitiu. Quando já estava próximo da cidade, uma luz intensíssima o derrubou no chão e ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? O jovem respondeu: Quem és tu, Senhor? E a voz disse-lhe: Eu sou Jesus, a quem tu persegues.

Tudo ocorreu em um instante, no caminho de Damasco. Desde então, este nome -Damasco- é sinônimo de conversão, de abertura à graça de Deus. Desde aquele momento, Saulo, o perseguidor, com a ajuda de um cristão piedoso de Damasco, Ananías, converteu-se no apóstolo Paulo. Disse que sim ao Senhor, livremente, e foi até a morte -com uma luta generosa, alegre- um fiel discípulo e evangelizador de Jesus Cristo.

De alguma forma, poder-se-ia dizer que cada JMJ é, para muitas e muitos jovens, a ocasião de reviver o episódio de Damasco. O Senhor Jesus, pela boca de seu Vigário na terra, Bento XVI, dirigirá sua palavra a quem o escute e provocará -em quem lhe ouça bem disposto- uma nova conversão, uma mudança, talvez profunda, em sua existência.

Dessa palavra acolhida com fé, podem nascer milhares de decisões na busca de Jesus Cristo, sem mudar de estado -na vida matrimonial, no celibato apostólico-, abraçando o sacerdócio ou a vida religiosa.

O Senhor chama a muitos, a todos, à plenitude da vida cristã, por diversos caminhos. Mas precisa-se -como no caso de São Paulo- de um coração aberto a Deus e aos irmãos, que se adquire e se aprofunda com a ajuda da catequese e também com a colaboração de outras pessoas que, como Ananias, podem facilitar que a palavra do Vigário de Cristo penetre na alma.

Cada santo, canonizado ou não, teve seu Damasco, seu momento de conversão radical a Deus. Talvez não foi tão vistoso como o de São Paulo, mas foi igualmente eficaz. Talvez tratou-se singelamente de passar da indiferença ao dom de si mesmo. De uma vida que consistia em receber, a outra que é também dar, que vai acompanhada de uma felicidade profunda, tão diferente da que oferecem as satisfações materiais.

Tive a sorte de conviver muitos anos ao lado de um santo que, cheio de convicção, assegurava: "Madri foi o meu Damasco, porque aqui caíram as escamas dos olhos de minha alma e aqui recebi minha missão". Refiro-me a São Josemaria Escrivá de Balaguer, fundador do Opus Dei.

Ainda que nascido e criado em terra aragonesa, foi em Madri onde o Senhor lhe mostrou a tarefa que lhe tinha atribuído desde a eternidade: ensinar a todos os cristãos que a existência ordinária -entretida de horas de trabalho bem feito, de dedicação à família e aos amigos, de interesse pelo bem comum da sociedade- podia e devia ser um verdadeiro caminho de santificação.

Durante muitos anos, pressentindo que o Senhor queria algo de sua vida, mas sem saber o que era, o jovem Josemaria dirigiu-se a Deus com umas palavras tiradas do Evangelho: Domine, ut videam; as mesmas que um cego dirigiu a Jesus que passava pelo caminho de Jericó: Senhor, que eu veja! Essa luz fez-se realidade em sua alma em 2 de outubro de 1928, precisamente nesta cidade de Madri.

Aqui, desenvolveu um serviço generoso entre todo tipo de pessoas, entre os doentes dos hospitais e entre aqueles mais necessitados dos bairros extremos. Rapidamente rodeou-se também de um grupo de jovens aos quais contagiou seu entusiasmo sobrenatural e humano,  ensinando-lhes a santificar o estudo, o trabalho e todas as realidades da vida quotidiana.

Muitas pessoas tiveram seu Damasco em Madri, terra de santos, de mártires e de cristãos normais que tentam imitar a Jesus Cristo na vida ordinária. Por uns dias, esta cidade se converterá na capital mundial da juventude.

Sobretudo, será a cidade de Pedro. Bento XVI guia-nos e leva-nos para o Modelo de todos os santos, para Cristo. Damos-lhe a mais calorosa boas-vindas, rezamos pelos frutos de sua viagem pastoral e pedimos, sobretudo, que muitas moças e muitos rapazes se sintam pessoalmente interpelados por suas palavras e experimentem nessas jornadas seu Damasco: um encontro pessoal mais intenso com Jesus Cristo, que mude e melhore sua existência.

Dizia o Papa, ao começar seu pontificado: "Quem deixa entrar a Cristo na própria vida não perde nada, nada -absolutamente nada- do que faz a vida livre, bela e grande. Não! Só com esta amizade se abrem de par em par as portas da vida. Só com esta amizade se abrem realmente as grandes potencialidades da condição humana. Só com esta amizade experimentamos o que é belo e o que nos liberta".
Temos de estar plenamente convencidos: Cristo não tira nada do que há de belo e grande em nós, pelo contrário, leva tudo à perfeição para a glória de Deus, a felicidade dos homens e a salvação do mundo.

Recorro à intercessão de São Josemaria, tão estreitamente unido a esta cidade, e ao Bem-aventurado João Paulo II, inspirador das Jornadas Mundiais da Juventude. Que eles nos alcancem do Senhor, por intercessão da Virgem de Almudena, uma chuva de graças nestes dias.

Que a JMJ de Madri seja a Damasco de muitos jovens dispostos a deixar a vida por Cristo e pelos demais, sendo testemunhas dignas e vibrantes desse Evangelho -sempre antigo e sempre novo- que o mundo atual, nosso mundo, precisa com urgência.

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