Acabei de ler essa frase atribuída a La Fontaine, “Pessoas que não fazem barulho são perigosas”!
O que pensar disso? Como assim perigosas?
Em seu livro “For the Brotherhood of Man”, que em português recebeu o título “Madre Teresa de Calcutá: Missionária da Caridade” , Madre Teresa de Calcutá diz, “Deus é amigo do silêncio.”
Silêncio x barulho. Nessa briga, acho o silêncio sai perdendo. É só perguntar para alguém que assistiu algum jogo da copa do mundo na Africa do Sul; se alguém não sabia o nome daquela corneta infernal, agora sabe.
A vida cotidiana nesse nosso tempo atual não é favorável ao silêncio. Quanto mais reflito sobre isso, mais tenho a sensação de que silêncio parece ser sinônimo de solidão ou sinal de que não se está vivo.
Já reparou o que acontece no trânsito? O motorista do carro da frente não se mexe quando o sinal (farol) diz que é para seguir, o que a pessoas fazem? Buzinam sem esperar nem um segundinho que seja. É um “ei, acorda, vê se se mexe!”, ou um “ei, sai da frente que eu quero passar!”.
Mas não pára por aí. Observe na rua, quantas pessoas falam ao celular, quantas estão digitando mensagens em suas geringonças eletrônicas, quantas estão com fones de ouvido. Eu mesma sou vítima dessa moda. Mas me pego pensando como será que era no passado (não muito distante) quando nada disso existia? O que faziam as pessoas no ônibus, no metrô, na rua, na fila? Será que conversavam com a pessoa mais próxima, ou ficavam a sós com os seus próprios pensamentos?
Mas a coisa não é só lá fora não. Imagine o cenário: em casa a mãe diz para o pai... Joãozinho está muito quieto, vai lá ver porque com certeza ele está aprontando alguma arte. Talvez você não precise imaginar, talvez você esteja rindo agora porque se lembrou que isso já aconteceu com você. Se bem que ultimamente, o silêncio do Joãozinho não existe mais, foi substituído pelo PS3, Wii e sei lá qual mais novidade... já não consigo mais acompanhar.
“Pessoas que não fazem barulho são perigosas”, ou no caso do Joãozinho, estão a fazer “arte”.
Mas nos diz Madre Teresa que Deus é amigo do silêncio. “Se quisermos rezar de verdade, precisamos primeiro aprender a ouvir, pois é no silêncio que o coração de Deus nos fala.”, continua ela.
Queremos rezar, mas por circunstâncias da vida perdemos muito tempo nos deslocando de um lugar para o outro. Solução, a internet está cheia de podcasts que podem ser colocados no iPod com a oração do Terço, a Liturgia das Horas, o Evangelho do Dia. E Madre Teresa vem nos dizer para ficarmos quietos. O que fazer? Como aprender a fazer silêncio? Como é que se faz silêncio?
Precisamos de prática, porque quando desligamos o rádio, a televisão, o celular, tiramos o telefone da tomada, desligamos a campainha, o interfone, o iPod e estamos sózinhas “em silêncio”, o que acontece? A mente da gente começa a fazer barulho. Já reparou no falatório que acontece na cabeça da gente assim que estamos a sós com nós mesmos? Bem, a não ser que você seja uma monja contemplativa, ou tenha experiência nessa área.
Quem não se enquadra nessa categoria, como eu, precisa de prática. Praticar é preciso. Como é isso? Penso que temos que proporcionar o espaço, o lugar, o tempo e a nos fazermos presentes. Isso tem que ser uma escolha consciente, um ato da vontade. Não adianta ficar rezando pedindo para Deus te proporcionar ocasiões de silêncio se você não der o primeiro passo. Toda caminhada começa com um pé na frente do outro. Mas e na rua, no ônibus, no metrô, na fila do banco, será possível fazer silêncio ali, ou é melhor ouvir o iPod? Não tenho resposta.
“Pessoas que não fazem barulho são perigosas”! Não sei o que La Fontaine quis dizer com isso; mas esse silêncio do qual Deus é amigo, esse sim pode fazer de nós pessoas perigosas; perigosas contra o pecado. Eu não sei de você, mas eu quero ser uma mulher perigosa! E você?
Termino com a transcrição de um trecho do livro O Silêncio de Maria de Inácio Larrañaga.
“O silêncio parou e se encarnou em Maria, juntamente com o Verbo. Nesses nove meses, a Mãe não precisou rezar, se por rezar se entende vocalizar sentimentos ou conceitos. Nunca a comunicação é tão profunda como quando não se diz nada e nunca o silêncio é tão eloquente como quando nada se comunica.
Aqui, durante esses nove meses tudo se paralisou. e “em” Maria e “com” Maria tudo se identificou: o Tempo, o Espaço, a Eternidade, a Palavra, a Música, o Silêncio, a Mãe, Deus. Tudo foi assumido e divinizado. O VERBO SE FEZ CARNE.”
Sandra, me identifiquei, eu sou dessas pessoas que até para estudar e DORMIR preciso de barulho (música, TV)... é tão difícil fazer o silêncio necessário para ouvir Deus !
ResponderExcluirOi Sandra, adorei o artigo.
ResponderExcluirRealmente é muito dificil hoje em dia viver longe do silêncio, felizmente, ainda existem pessoas que buscam isso.
Tive a experiência de passar 15 dias em silêncio, sem falar com ninguem, sem tv, sem som, embora rodeada de pessoas. Éramos quase 20 pessoas dividindo essa experiência, na presença de Jesus Sacramentado diuturnamente, que foi MARAVILHOSA!
E, como você falou, a mente da gente faz muuuito barulho. rs
Tenho 2 cadernos escritos somente desses 15 dias.
E, como ouvimos Deus quando estamos em silêncio!
Que saudade!
Procurem fazer essa experiência, ao menos algumas horas ao dia diante do Santíssimo.
Que Deus nos abençõe.
Sandra,
ResponderExcluirOntem mesmo o padre dizia durante a homilia da importância do silêncio. Que na hora de rezar devemos nos silenciar para ouvir a Deus :)!
Eu tenho tentado praticar esse silêncio. Passei meses sozinha em casa e quando chegava, apesar de estar sempre fazendo algo...eu não ligava a tv ou nenhum outro aparelho que emitisse sons!
Ficava ali por horas ouvindo o "nada"! Deus realmente fala conosco, quando conseguimos silenciar a nossa mente.
Santa Faustina dizia que ela tinha dó das almas tagarelas, pois elas não conseguiam escutar a Deus!
Excelente texto :)
Oi Graziela,
ResponderExcluirFiz um desses retiros, mas só durou o fds. Foi muito bom, se bem que para mim, ficar sem falar, sem tv e sem som não foi o mais difícil. O problema foi ficar sem computador. Eu não escrevi muito, mas desenhei a paisagem do local - não sou boa desenhista, mas toda vez que eu olho para aquele desenho, me recordo da experiência.
Oi Sandra,
ResponderExcluirOnde você fez esse retiro? Foi numa comunidade? Com um sacerdote?