Trecho de entrevista de São Josemaria Escrivá, Fundador do Opus Dei, concedida a Pilar Salcedo, Diretora da revista feminina Telva (Madri, Espanha), em 1º de março de 1968.
Desculpe insistir no mesmo tema: através de cartas que chegam à Redação, sabemos que algumas mães de família numerosa se queixam de se verem reduzidas ao papel de trazer filhos ao mundo, sentindo uma insatisfação muito grande por não poderem dedicar sua vida a outros campos: trabalho profissional, acesso à cultura, projeção social... Que conselhos daria o senhor a essas pessoas?
Mas, vejamos: o que é a projeção social senão dar-se aos outros, com sentido de entrega e de serviço, e contribuir eficazmente para o bem de todos? A atividade da mulher em casa não só constitui, já de si, uma função social, mas também facilmente pode ser a função social de maior projeção.
Imaginem o caso de uma família numerosa: aí a atividade da mãe é comparável — e muitas vezes vai mais longe — à dos educadores e formadores profissionais. Um professor consegue, talvez ao longo de uma vida inteira, formar mais ou menos bem um certo número de moços ou moças. Uma mãe pode formar seus filhos com profundidade, nos aspectos mais básicos, e pode fazer deles, por sua vez, outros formadores, criando-se assim uma cadeia ininterrupta de responsabilidade e de virtudes.
Também nestes temas é fácil deixar-se seduzir por critérios meramente quantitativos, e pensar: é preferível o trabalho de um professor, que vê passar por suas aulas milhares de pessoas, ou o de um escritor, que se dirige a milhares de leitores. Certo, mas... quantos formam realmente esse professor e esse escritor? Uma mãe tem a seu cuidado três, cinco, dez ou mais filhos; e pode fazer deles uma verdadeira obra de arte, uma maravilha de educação, de equilíbrio, de compreensão, de sentido cristão da vida, de maneira a serem felizes e chegarem a ser realmente úteis aos outros.
Por outro lado, é natural que os filhos e as filhas ajudem nas tarefas da casa: uma mãe que saiba preparar bem os seus filhos, pode conseguir isso, e dispor assim de oportunidades, de tempo que — bem aproveitado — lhe permita cultivar suas inclinações e talentos pessoais, e enriquecer sua cultura. Felizmente, não faltam hoje meios técnicos que, como sabem perfeitamente, poupam muito trabalho, se forem convenientemente utilizados e deles se tirar todo o rendimento possível. Nisto, como em tudo, são determinantes as condições pessoais: há mulheres que têm uma máquina de último modelo e demoram mais tempo a lavar — e o fazem pior — do que quando o faziam à mão. Os instrumentos só são úteis quando se sabem empregar.
Sei de muitas mulheres casadas e com bastantes filhos que tomam conta do seu lar perfeitamente e além disso acham tempo para colaborar em outras tarefas apostólicas, como fazia aquele casal da primitiva cristandade: Áquila e Priscila. Ambos trabalhavam em casa e no seu ofício, e foram também esplêndidos cooperadores de São Paulo: com sua palavra e com seu exemplo, levaram a fé de Jesus Cristo a Apolo, que depois foi um grande pregador da Igreja nascente. Conforme já disse, boa parte das limitações se podem superar, se de verdade se quer, sem deixar de cumprir dever algum. Na realidade, há tempo para fazer muitas coisas, para tomar conta do lar com senso profissional, para dar-se aos outros continuamente, para melhorar a cultura própria e para enriquecer a de outros, para realizar imensas tarefas eficazes.
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