sábado, 23 de outubro de 2010

São Josemaría fala sobre a Mulher: O Matrimônio e o Celibato pelo Reino

 

Trecho de entrevista de São Josemaria Escrivá, Fundador do Opus Dei, concedida a Pilar Salcedo, Diretora da revista feminina Telva (Madri, Espanha), em 1º de março de 1968.

Sabemos que esta sua doutrina sobre o matrimônio como caminho de santidade não é novidade em sua pregação. Já em 1934, quando escreveu "Considerações espirituais", o senhor insistia em que era preciso ver o matrimônio como uma vocação. Mas nesse livro, e depois em "Caminho", o senhor escreveu também que "o matrimônio é para os soldados e não para o estado-maior de Cristo". Poderia explicar-nos como se conciliam estes dois aspectos?

No espírito e na vida do Opus Dei, não houve nunca impedimento algum para conciliar esses dois aspectos. Aliás, convém recordar que a maior excelência do celibato — por motivos espirituais — não é uma opinião teológica pessoal, mas sim doutrina de fé da Igreja.

Quando eu escrevi aquelas frases, lá pelos idos de 1930, no ambiente católico — na vida pastoral concreta — havia uma tendência para promover a busca da perfeição cristã entre os jovens fazendo—os apreciar apenas o valor sobrenatural da virgindade, e deixando na sombra o valor do matrimônio cristão como outro caminho de santidade.

Normalmente, nos centros de ensino, não se formava a juventude de maneira que ela apreciasse, como merece, a dignidade do matrimônio. Ainda hoje, nos retiros espirituais que costumam dar aos alunos dos últimos anos do Secundário, é freqüente oferecerem-lhes mais elementos para considerarem a sua possível vocação religiosa do que o seu encaminhamento para o matrimônio, igualmente possível. E não faltam — embora sejam cada vez menos — os que depreciam a vida conjugal, configurando-a aos olhos dos jovens como algo que a Igreja simplesmente tolera, como se não permitisse aspirar seriamente à santidade.

No Opus Dei sempre temos procedido de outro modo e — deixando bem clara a razão de ser e a excelência do celibato apostólico — indicamos o matrimônio como caminho divino na terra. A mim não me assusta o amor humano, o amor santo de meus pais, de que o Senhor se valeu para me dar a vida. Esse amor, eu abençôo com as duas mãos. Os cônjuges são os ministros e a própria matéria do sacramento do Matrimônio, como o Pão e o Vinho são a matéria da Eucaristia. Por isso gosto de todas as canções sobre o amor limpo dos homens, que são para mim cantigas de amor humano em estilo divino. E, ao mesmo tempo, digo sempre que os que seguem o caminho vocacional do celibato apostólico não são solteirões que não compreendem ou não apreciam o amor; pelo contrário, a explicação de suas vidas está na realidade desse Amor divino — gosto de escrevê-lo com maiúscula — que é a própria essência de toda a vocação cristã.

Não há qualquer contradição entre ter esse apreço pela vocação matrimonial e compreender a maior excelência da vocação para o celibato propter regnum coelorum (Mt 19, 12), por amor do reino dos céus. Estou convencido de que qualquer cristão que procure conhecer, aceitar e amar a doutrina da Igreja, entenderá perfeitamente como estas duas coisas são compatíveis. E se também procurar conhecer, aceitar e amar sua própria vocação pessoal. Quer dizer: se tiver fé e viver de fé.

Quando eu escrevi que o matrimônio é para os soldados, não fazia mais do que descrever o que sucedeu sempre na Igreja. Como sabem, os Bispos — que formam o Colégio Episcopal, cuja cabeça é o Papa, e com ele governam a Igreja — são escolhidos entre os que vivem o celibato.

O mesmo acontece nas igrejas orientais, onde se admitem os presbíteros casados. Além disso, é fácil de compreender e verificar que os não casados têm, de fato, maior liberdade de coração e de movimentos para se dedicarem estavelmente a dirigir e a manter empreendimentos apostólicos, mesmo no apostolado dos leigos. Isto não quer dizer que os outros leigos não possam fazer ou não façam de fato um apostolado esplêndido e de primeira importância; quer dizer somente que há diversidade de funções, diversas dedicações em lugares de diferente responsabilidade.

Num exército — e era só isso o que a comparação pretendia exprimir — os soldados são tão necessários quanto o estado-maior, e podem ser mais heróicos e merecer mais glória. Em resumo: há diversas tarefas e todas são importantes e dignas. O que sobretudo interessa é a correspondência de cada um à sua própria vocação. O mais perfeito para cada um — sempre e exclusivamente — é fazer a vontade de Deus. Por isso, um cristão que procura santificar-se no estado matrimonial e é consciente da grandeza da sua própria vocação, sente espontaneamente uma especial veneração e um profundo afeto pelos que são chamados ao celibato apostólico; e, quando algum de seus filhos, pela graça do Senhor, empreende esse caminho, alegra-se sinceramente. E acaba amando mais ainda sua própria vocação matrimonial, que permitiu oferecer a Jesus Cristo — o grande Amor de todos, solteiros ou casados — os frutos do amor humano.

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