Dois amigos marinheiros viajavam pelo mundo, quando encontraram uma ilha desconhecida no Pacífico. Desembarcaram, por curiosidade, e cruzaram-se com uma mulher que estava ajoelhada, a lavar roupa à beira de um rio. Um deles apaixonou-se perdidamente por ela, mal a viu, e decidiu de imediato casar-se com ela. Começou a conversar com ela e a perguntar-lhe sobre os seus costumes, para depois ir pedi-la formalmente em casamento ao seu pai, que era o chefe da tribo da mulher.
O outro marinheiro indagava-se se o seu amigo não estaria louco, mas acompanhou-o à conversa com o ancião.
O chefe da tribo ouviu atentamente o jovem e apaixonado marinheiro, explicando-lhe, em seguida, os costumes da aldeia:
-Aqui o costume é pagar um dote pela mulher que se escolhe para casar. Tenho várias filhas, e o valor do dote varia conforme as virtudes de cada uma. Pelas mais jovens e mais bonitas, deve pagar-se nove vacas. Por algumas, não tão jovens nem tão bonitas, mas que cuidam muito bem de crianças, haveria que pagar oito vacas. E o valor do dote vai diminuindo conforme diminuem as virtudes das minhas filhas. Pelas que têm menos virtudes, paga-se um dote menor.
-Eu escolhi aquela que vi, hoje de manhã, a lavar roupa à beira do rio. E descreve-a ao chefe da tribo.
-Essa? Escolheu essa minha filha? Porque ela não é nada agraciada, cobro-lhe apenas três vacas.
-Está bem – disse o jovem marinheiro – fico com a mulher que escolhi e pago por ela nove vacas.
O pai da jovem, ao ouvi-lo, nem podia acreditar:
-O senhor não compreendeu. A mulher que escolheu vale três vacas. Tenho outras filhas, mais jovens e muito mais bonitas, que, essas sim, valem as nove vacas.
-Entendi perfeitamente – responde o marinheiro – e já decidi: fico com a mulher que amo e pago por ela nove vacas.
O pai da mulher, pensando que por vezes aparecem loucos até por ali, aceitou as nove vacas, pela filha que só valia três. Iniciaram-se depois os preparativos para a cerimónia. O amigo do marinheiro foi testemunha do casamento e, na manhã seguinte, foi-se embora da ilha, deixando o seu amigo de toda a vida com a sua pouco agraciada esposa.
Um dia, bastante mais tarde, outra viagem levou-o ao mesmo local onde havia deixado, anos antes, o seu querido amigo. Estava ansioso por vê-lo, abraçá-lo, saber como estava, se se tinha adaptado à sua nova vida.
Desembarcou e dirigiu-se ao local onde pensava que poderia estar o seu amigo. Como estaria? Continuaria na ilha? Ter-se-ia acostumado àquela vida ou partiu noutro barco?
Enquanto se dirigia à aldeia, cruzou-se com um grupo enorme de gente que caminhava pela praia. Era um espectáculo magnífico. Entre todos, levavam uma mulher lindíssima sentada numa cadeira, como se de uma procissão, um andor, se tratasse. Ele ficou maravilhado com a beleza daquela mulher. Todos cantavam músicas lindas e obsequiavam flores à belíssima jovem. Ela retribuía com sorrisos e lágrimas emocionadas.
O jovem marinheiro parou para ver o cortejo e, só prosseguiu, quando perdeu de vista a procissão. Voltou, de imediato, a empreender o seu caminho, em busca do seu amigo.
Passados alguns minutos, encontrou-o finalmente. Emocionaram-se e abraçaram-se, como fazem dois grandes amigos que já não se vêem há uma infinidade de tempo. O que chegou não parava de perguntar, preocupado, ao seu amigo:
-Acostumaste-te a viver aqui? Gostas desta vida? Não queres voltar?
-Sim. Gosto muito, adaptei-me perfeitamente e sou muito feliz aqui – respondeu o outro.
Finalmente, o recém-chegado ganha coragem e pergunta:
-E como está a tua esposa?
Ao ouvir essa pergunta, o amigo respondeu:
-Muito bem, esplêndida. Mais, creio que a viste ser levada em procissão, pela praia, por um grupo de pessoas que festejavam o seu aniversário.
O outro, ao ouvir isto e lembrando-se perfeitamente da mulher quase feia que tinham conhecido há anos atrás a lavar roupa no rio, perguntou:
-Então, se assim é, separaste-te? Não é a mesma mulher que eu conheci, certo?
-Sim – disse o amigo – é a mesma mulher que encontrámos há anos, a lavar roupa e com quem me casei. É a minha esposa – dizia-o com orgulho e amor.
-Mas não pode ser! Esta é muito mais bonita – lindíssima -, feminina e agradável. Como pode ser isso? Perguntou o marinheiro atónito.
-Muito simples de ser explicado. Pediram-me, de dote, três vacas por ela. Ela acreditava convictamente que valia três vacas. Mas eu paguei por ela nove vacas, cuidei-a, considerei-a sempre como uma mulher que vale nove vacas. Amei-a como se ama uma mulher que vale nove vacas, e ela transformou-se numa mulher que realmente vale as nove vacas e muito mais!
Comentário:
Se tratamos alguém como se fosse um delinquente, é possível que a referida pessoa se transforme mesmo num delinquente; se o tratas como um santo, pode ser que se transforme em santo muito mais facilmente.
Cada pessoa é uma obra-prima das mãos de Deus e deve ser valorizada como tal. As obras de Deus são perfeitas. Por isso devemos pensar dos outros o que Deus pensa; amar os outros como Deus ama. O outro é sempre um projecto do amor divino.
Se valorizarmos as pessoas que amamos de algum modo, essas pessoas, em vez de darem cinco como seria de se esperar vindo delas, dão vinte!
A transformação do coração vem com o amor e a valorização dos que amamos!
Publicado originalmente aqui.
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