sábado, 19 de fevereiro de 2011

Ter muitos filhos ajuda outros a serem felizes na velhice. Saiba porquê - em defesa, hoje e sempre, da santa família numerosa

«De vez em quando, nós, os pais de famílias numerosas, deparamo-nos com a boa notícia de que não procedemos tão mal assim. Refiro-me ao facto de termos trazido muitos filhos ao mundo.

Numa recente conferência no Instituto Ortega y Gasset, o demógrafo Massimo Livi Bacci, professor da Universidade de Florença, disse que a sociedade tem uma dívida conosco, por uma simples — e económica — razão: não estamos a ajudar a aumentar a cota de idosos.

Mas, por acaso, é mau ser velho? Muito pelo contrário: todos querem chegar a ser velhos um dia, e a sociedade esforça-se para que as pessoas vivam o maior tempo possível; e, se a expectativa de vida de um país aumenta, considera-se um sinal de progresso.

Entretanto, como a sociedade se empenha tanto para que vivamos muito, mas não faz o esforço paralelo para que as pessoas tenham filhos, aparece o problema. Teoricamente, só nós, que temos muitos filhos para nos sustentar na velhice, teríamos o direito de chegar a ser velhos. Pelo visto,é o que acontecia na sociedade rural, pré-industrial, mais simples e mais de acordo com as regras da mãe natureza. Porém, na sociedade industrial e pós-industrial, o Estado intervencionista procura repartir o dinheiro, mas não os filhos.

Quem continua a sustentaros filhos são aqueles que os concebem, mas o dinheiro produzido por esses filhos é dividido entre todos. Vou explicar. Dos nove filhos que tenho, quase todos já contribuem para a Previdência Social. Da contribuição deles, só receberei uma parte mínima, na reforma,e o resto vai para os outros, que não têm filhos, ou só têm um, mas que também têm o direito de chegar a ser velhos.

O demógrafo Livi Bacci explica isso muito bem, e diz-me que tenho direito a reclamar, mas que não me preocupe com isso porque não vai resultar. Parece-me que o ilustre professor é um tanto pessimista quanto à solução estrutural do problema. Em termos económicos, conclui que a Europa sofre uma escassez, não de matéria-prima, mas de gente. É certo que noutras partes do planeta, situadas mais ao sul, parece que há excedentes, mas transportar gente não é tão fácil quanto transportar matéria-prima.

Custar caro
Uma confusão! Não haverá outra soluçãoa não ser voltar ao velho procedimento de ter filhos como Deus manda, que parece dar mais certo. Quando alguém anima a juventude, inclusive os seus próprios filhos, para que tenham mais filhos, sempre respondem a mesma coisa: “As coisas agora são diferentes, tudo mudou muito”. E têm razão; mas ninguém disse que mudou pra melhor.

Quanto menos somos, maior a tendência a vivermos agrupados nos grandes núcleos urbanos, com as consequências negativas que esse congestionamento de gente produz. Por isso parece que somos muitos, mas basta sobrevoar o mundo para percebermos que somos muito poucos. O que acontece é que estamos mal distribuídos.

“Além disso”, acrescentam, “ter filhos agora custa muito caro”. E também não estão errados. Mas porque custam tão caro agora? É que as pessoas querem ter filhos muito competitivos, procurando para eles uma educação, quando podem, que vai desde aprender idiomas, incluindo informática, até aulas de judo, balé, esqui e, se der, de equitação. Como se o destino de todos eles fosse a Casa Branca, para substituir o presidente dos Estados Unidos. É claro que vão ser jovens muito instruídos, mas nem por isso acredito que venham a ser melhores.

Conclusão: no fim das contas, estou disposto a ser generoso e não reclamar nada pelo excedente da contribuição dos meus filhos. Também é verdade que me deram muitas alegrias e reconhecimento.

Quando João Paulo II nos recebeu em audiência privada, mostrou um discreto interesse pelos quarenta e tantos livros que publiquei. Mas, quando soube que tínhamos nove filhos, todas as atenções e admirações foram para a minha mulher. Tive de fazer com que Sua Santidade percebesse que eu também tinha algo a ver com isso.»

(José Luís Olaizola, revista "Mundo cristão" - Março de 1998)

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