quarta-feira, 13 de julho de 2011

Os Efeitos das Drogas Durante a Gravidez

Durante o desenvolvimento embrionário o único contato do bebê com o meio externo é a mãe, sendo esta, portanto de importância vital. A atitude da mãe durante a gravidez tem significativo peso na formação e no futuro do embrião. Se até mesmo os hábitos alimentares e o estado emocional da gestante contribuem no desenvolvimento do bebê, muito há o que dizer sobre os costumes dos vícios, mau uso dos fármacos e suas conseqüências desastrosas no período da gestação. Antigamente acreditava-se que o embrião estaria protegido no útero materno e livre de agentes externos. Mas hoje sabe-se que a placenta não é um filtro seletivo por onde passa apenas o que é benéfico ao bebê. Todas as substâncias nocivas e fármacos usados pela mãe durante a gestação também chegam ao embrião. Os efeitos do uso de drogas durante a gravidez variam de acordo com a substância usada, a dose e a idade gestacional. O período embrionário é o de maior sensibilidade na formação do ser humano. Por isso, o uso de medicamentos, drogas lícitas ou ilícitas principalmente neste estágio, desenvolve no embrião anomalias graves.

O abuso do álcool, tabaco e diversas outras drogas causam problemas de saúde em qualquer pessoa; na mulher grávida os efeitos das drogas são agravados devido às complicações na gestação e no bebê as causas são piores ainda, pois o embrião é impedido de ter uma formação normal, com conseqüências que podem variar de ausência de membros, retardamento mental até desajuste social. Portanto, o uso de drogas e remédios inadequados durante a gravidez produz respostas diferentes no feto e na mãe, causando resultados mais graves no bebê do que na gestante.

As drogas e os medicamentos durante o processo da gravidez conseguem ultrapassar a barreira placentária e consequentemente atingir o feto. Uma vez passada essa barreira, o risco de causar danos ao feto aumenta muito, devido a elevadas dosagens que chegam até ao bebê, alterando a formação de seus órgãos em desenvolvimento. Drogas, como tabaco, cocaína, bebidas contendo álcool, medicamentos controlados entre outros, infelizmente são comuns em determinadas mulheres durante a gestação. Além de poder provocar um aborto, essas drogas alteram o desenvolvimento do embrião causando malformação congênita, problemas de crescimento, déficit intelectual, parto prematuro, descolamento prematuro da placenta. Também expõe futuramente a criança à possibilidade de ter problemas com os vícios, inadequação social, hiperatividade, dificuldades na atenção, no aprendizado.

São poucas doenças que justificam o uso de medicamentos durante a gravidez, como diabete, hipertensão e epilepsia. Deve-se levar em consideração a falta do acompanhamento médico no pré-natal e o sério problema da automedicação, costume talvez adquirido pela gestante antes da gravidez, mas que no período gestacional pode levar a transtornos graves para a mãe e bebê.

No passado, a medicina não conhecia os teratógenos, acreditava-se que o embrião estava protegido no ventre materno, livre de agentes ambientais. Em 1941 foi descrita a síndrome da rubéola congênita. Se durante a gestação, principalmente nos três primeiros meses, a mãe fosse infectada por esta doença, as conseqüências causavam aborto, morte fetal, parto prematuro e malformações no bebê. Então, descobriu-se que no útero, o bebê não estava totalmente protegido de agentes externos. No entanto o fato que levou a investigar os efeitos dos agentes externos no desenvolvimento embrionário foi a tragédia da talidomida.

Entre os medicamentos que causam deformações no bebê está a talidomida, que foi desenvolvido na Alemanha, em 1954, inicialmente como sedativo e para controle de vômitos, sendo inclusive usado pelas gestantes contra enjôos. Antes de ser vendida livremente, a talidomida foi testada em coelhos, não produzindo nenhuma alteração nestes animais. O uso de talidomida por mulheres grávidas ocasionou o nascimento de milhares de crianças com focomelia, que é o encurtamento dos membros junto ao tronco do feto semelhantes aos de uma foca ou com amelia, que é a ausência do membro. Estima-se que 10 mil crianças tenham sido atingidas pela talidomida, sem contar os casos de aborto.

A talidomida é um teratógeno potente, apenas um comprimido deste medicamento nos três primeiros meses de gestação é suficiente para provocar a focomelia. Outras conseqüências graves são defeitos na visão, audição, coluna vertebral e, em casos mais raros, no tubo digestivo e problemas cardíacos. Descobriu-se posteriormente que a talidomida não causa defeitos hereditários. Até hoje as más formações causadas pela talidomida são consideradas como o maior desastre da medicina. Em 2010, no Brasil foi sancionada uma lei que indeniza 277 vítimas da talidomida oficialmente reconhecidas.

O efeito da talidomida foi descoberto em 1961 e foi a tragédia causada por este medicamento que despertou no mundo científico o interesse por desvendar os riscos que os agentes químicos representam no desenvolvimento pré-natal. Em 1965 descobriu-se uma utilidade para a talidomida, desta vez no tratamento da hanseníase e assim passou a ser reintroduzido no mercado brasileiro. Depois esta droga passou também a ser utilizada no tratamento contra aids, lupus e alguns tipos de câncer. O uso da talidomida é proibida para mulheres em idade fértil em todo o território nacional. No entanto, apesar da proibição, pode ser receitada pelos médicos em casos especiais. Mas, mesmo com a assinatura no Termo de Esclarecimento aos Pacientes e Termo de Responsabilidade Médica, tanto médico como paciente podem ser responsabilizados, com punições legais, pelo mau uso da droga. Deve-se ressaltar que a talidomida inibe o efeito dos anticoncepcionais e que o homem que faz uso da talidomida também deve evitar gerar filhos. Ainda não é conhecido o período seguro para a eliminação da talidomida pelo organismo, mas estima-se o prazo mínimo de um ano após o uso desta substância para que o bebê possa ser gerado com segurança.

Os calmantes são drogas com potencial teratogênico. Os calmantes não devem ser utilizados durante a gravidez por desenvolver no embrião malformações graves, depressão do sistema nervoso central e flacidez da musculatura do bebê. Se o calmante for utilizado pela gestante nos três primeiros meses de gravidez pode resultar no embrião malformações na boca, como lábio leporino e fenda palatina. Se a gestante continua utilizando calmante após os três primeiros meses de gravidez, o bebê ao nascer pode apresentar síndrome de abstinência, caracterizada por tremores, dificuldades respiratórias, irritabilidade, inquietação, vômitos. Os calmantes também provocam distúrbios do sono e dificuldade de alimentação nos recém-nascidos. Futuramente, a criança corre o risco de se tornar dependente do medicamento que foi utilizado pela mãe durante a gravidez.

O tabaco é a droga mais consumida durante a gravidez e é o maior responsável por abortos espontâneos e atraso do crescimento do feto. A nicotina ultrapassa a barreira placentária com facilidade. A associação entre tabagismo e problemas na gravidez foi detectada na década de 1950. O tabaco, com suas várias substâncias prejudiciais, como o monóxido de carbono e a nicotina, alteram o funcionamento da placenta, prejudicando o bebê. O monóxido de carbono altera o desenvolvimento fetal devido a sua afinidade com a hemoglobina, sendo transmitida, portanto ao feto pelo cordão umbilical, aumentando a concentração no seu organismo, causando apneia, reduzindo a passagem de sangue da placenta para o feto, diminuindo a oxigenação e a quantidade de nutrientes que chegam ao feto.

O uso do tabaco pela gestante gera efeitos danosos ao bebê, ocasiona baixo peso ao nascer, que é a principal causa de morte infantil. Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos entre 1979 e 1983 constatou que se todas as mulheres parassem de fumar, o índice de mortalidade fetal e infantil seria reduzido em 70%. Esta pesquisa ainda revelou que o primeiro filho de mulheres que fumaram menos de um maço de cigarro por dia tiveram um risco de mortalidade 25% superior ao primeiro filho de mulheres não fumantes. Crianças filhas de mães que fumaram mais de um pacote de cigarro por dia apresentaram um risco de mortalidade de 56% a mais do que filhos de mães não fumantes. Foi observado que o segundo ou mais filhos de mulheres fumantes tiveram 30% de mortalidade maior em relação às crianças de mães não fumantes.

O tabaco pode gerar cólicas e irritabilidade no recém-nascido, causa lesões cerebrais que se manifestam na infância como TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), produz nas crianças expostas ao fumo quoeficientes de inteligência (QI) menores do que em filhos de mães não fumantes, riscos de doenças respiratórias, asma, alergias, distúrbios do sono e probabilidade da criança desenvolver no futuro o vício pelo tabaco. Além de todos esses efeitos, o tabaco causa o aborto espontâneo, descolamento prematuro da placenta, gravidez tubária, diminuição da produção de leite e aumento das complicações pré e pós-parto.

O tabagismo passivo é também um fator de risco no desenvolvimento embrionário. Deve-se atentar ao fato de que a mulher grávida que não é fumante, mas que está constantemente em contato com a fumaça do cigarro também está exposta e expõe seu bebê aos malefícios do fumo. Estima-se que uma hora de inalação passiva de fumo equivale inalar ¼ (um quarto) da nicotina normalmente eliminada em um cigarro.

O álcool é a principal droga utilizada no mundo e a ingestão de bebidas alcoólicas tornou-se comum na vida de grande parte das grávidas. Assim, o álcool tornou-se a principal causa de retardo mental não hereditário. O álcool, por apresentar baixo peso molecular, atravessa facilmente a barreira placentária chegando ao feto, sob grandes concentrações, causando alterações no desenvolvimento do feto, como malformações e risco de aborto espontâneo. Além disso, o álcool ingerido no desenvolvimento embrionário, traz conseqüências na infância, conhecida como Síndrome Fetal do Álcool, que atinge cerca de 40% das crianças, causando déficit intelectual, retardo mental, baixo peso ao nascer, microcefalia, anomalias faciais, problemas cardíacos e em outros órgãos. Também devido às calorias vazias do álcool, a desnutrição materna acarreta uma desnutrição no bebê. O uso do álcool durante a gravidez também é responsável por causar na criança problemas de aprendizagem, memória, irritação, falta de coordenação motora, dificuldades da visão, audição e linguagem. Quase metade dos jovens acima de 20 anos, filhos de mães que consumiram álcool na gravidez, apresentaram problemas escolares, judiciais, relacionado a comportamento sexual, álcool ou drogas.

Como é nítido, o álcool não é apenas um problema de saúde, mas é um problema social, acarretando situações nocivas não apenas aos adultos, mas também às crianças vítimas de mães irresponsáveis. Portanto, a saúde, toda a vida social e escolar de uma criança pode ser corrompida pelo uso do álcool da mulher durante a gravidez. Deve-se alertar que não há uma quantidade segura para o uso do álcool pela gestante e que foi observado que mesmo o uso moderado ocasiona dificuldades de comportamento e aprendizado da criança. Bebidas alcoólicas também não devem ser ingeridas durante a amamentação, pois o álcool é transferido para o leite materno.

Entre as drogas ilícitas a cocaína é a mais usada na América do Norte, tem uma ação tóxica direta sobre o desenvolvimento fetal, causando muitos efeitos pré-natais. A cocaína, também como o tabaco, produz substâncias que durante o desenvolvimento do feto, causam aborto, prematuridade, microcefalia, baixo peso ao nascer. A cocaína causa malformações físicas, como visuais, hidrocefalia, fissura labial e palatina, cardiomegalia (aumento do coração), ausência dos rins, além de problemas neurológicos, morte súbita em crianças pequenas e dificuldades no aprendizado. A cocaína atravessa a barreira placentária, age diretamente sobre o sistema nervoso fetal e provoca no feto reações semelhantes do que ocorre na mãe. A intoxicação aguda causada pela cocaína provoca efeitos devastadores nos primeiros anos de vida da criança.

A maconha é a droga ilícita mais utilizada durante a gravidez. O uso intenso da maconha durante a gravidez causa os mesmos efeitos produzidos pelo consumo de álcool. Questiona-se sobre a ação teratogênica ou não da maconha. No entanto, estudos demonstram que o uso da maconha durante o período da gravidez produz no recém-nascido tremores, dificuldades na amamentação, além de causar problemas de atenção, memória, raciocínio, impulsividade, hiperatividade e distúrbios de conduta.

Durante a gestação, no desenvolvimento embrionário, os cuidados para com o feto são essenciais, pois este é o momento em que os órgãos do embrião estão em formação, as células em mudanças contínuas. É durante o período embrionário que todas as estruturas internas e externas indispensáveis ao seres humanos são formadas. A mãe é o único meio de vida do feto, assim, suas atitudes podem influenciar muito no desenvolvimento do bebê. As conseqüências pelo uso de drogas durante a gravidez são visíveis e inegáveis, devido às malformações, os déficits que aparecem na infância e até sequelas que levam a morte da criança nos seus primeiros anos de vida. Contudo, os danos provocados pelo uso de drogas durante a gestação ultrapassam os limites da saúde da mãe e do bebê, causando prejuízos no âmbito social e escolar da criança. Portanto, as drogas na gravidez geram sofrimento da família e principalmente situações desastrosas na vida de um ser que mal começou a viver e já está exposto a tantos riscos. É necessário haver o respeito ao nascituro, que tem o direito de ser gerado com segurança e saúde.



Isis Sturzeneker Lemgruber
Sharla Maria Satheler Gonçalves



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