Segundo Dom Estêvão Bettencourt, em seu opúsculo para a Escola Mater Ecclesiae:
1.Etimologia
Apalavra homeopatia vem do grego, ou seja, dos vocábulos homoios, semelhante,e pathos, dor, enfermidade. No início do século XIX, tal palavra foicriada para designar o sistema de prática médica fundado em Leipzig (Alemanha)pelo Dr. Hahnemann em 1796. Essa nova terapia se opunha à alopatia (do gregoallos, outro) ou à medicina convencional. Baseava-se num princípio muito caro aos antigos, que rezava: Similia similibus curantur, (as coisas ou os efeitossemelhantes curam-se com coisas ou efeitos semelhantes) e proclamava o seguinte programa: as doenças sejam tratadas por doses mínimas de remédios que produzirão em pessoas sadias os mesmos sintomas que produzem nos enfermos dessa doença ou os mesmos sintomas que causam em pessoas enfermas.
2.Em que consiste a homeopatia?
Ahomeopatia ou homeoterapia é um sistema médico fundado no séc. XVIII porChristian Friedrich Samuel Hahnemann (1755-1843). Apresentando uma doutrina coerente, se bem que maleável, a homeopatia baseia-se no princípio da similitude, no princípio da diluição ou atenuação da substância medicamentosa,e ainda nos princípios de individualização do doente e do remédio.
2.1.Descoberta do princípio de similitude
Insatisfeito com a medicina de seu tempo, Hahnemann interrompeu a prática clínica e dedicou-sea traduzir livros médicos como ganha-pão. Em 1790, com 35 anos de idade, ao traduzir a obra A Matéria Médica, de William Cullen (1710-1790), ficouintrigado pelas explicações dadas a respeito das propriedades da quina.
Hahnemann decidiu experimentar em si mesmo a ação da droga, tomando durante vários diasfortes doses. Observou o aparecimento de sintomas de um estado febril intermitente, semelhante às febres curadas pela quina. Concluiu então que assubstâncias que provocam uma espécie de febre cortam as diversas variedades de febre intermitente.
Hahnemann realizou, em si e seus discípulos, experiências semelhantes com o mercúrio, abeladona, a digital e outras drogas, chegando sempre a resultados idênticos.Formulou então o princípio similia similibus curantur (os semelhantes sãocurados pelos semelhantes), base de sua doutrina homeopática. Retomandocontato com alguns aspectos da tradição hipocrática (principalmente o seu sintomatologismo), Hahnemann expõe suas concepções médicas sucessivamente no Organonder Heilkunst (1810; Sistema de medicina), em Reine medizinischeWissenschaft (1811-1821; Ciência médica pura), e em Homöopathische Lehreund Behandlung der chronischen Krankheiten (1822; Teoria e tratamento homeopático das doenças crônicas).
Atualmente,poderia formular-se o princípio essencial da homeopatia da seguinte forma: todasubstância que, em dose ponderável, é capaz de provocar no indivíduo sadio umquadro sintomático dado, pode também fazer desaparecer sintomas semelhantes noindivíduo doente, se prescrita em pequenas doses.
2.2.Princípio de diluição ou atenuação
Na definição de homeopatia, está já incluído um outro princípio cuja descoberta sedeve igualmente a Hahnemann. Para a medicina homeopática, o processo depreparação dos medicamentos baseado em diluições infinitesimais seria capaz de desenvolver extremamente as virtudes medicinais dinâmicas das substâncias grosseiras.
A diluição hahnemanniana é preparada de acordo com o método dos frascos separados, em diluições decimais ou centesimais, as quais são as mais usadas na França e no Brasil. Para obter a primeira diluição centesimal, coloca-se no primeiro frasco uma parte ponderável do medicamento e completa-se com cem partes, em volume, do veículo. Para obter uma segunda diluição centesimal, uma parte do volume da primeira diluição é despejada no segundo frasco e acrescentam-se 99 partes, em volume, do veículo. Para as diluições ulteriores procede-se da mesma maneira até o último frasco. A escala decimal faz-se acompanhar por um X (ou um D). Se a escala é centesimal, não é necessário adicionar sinal algum, embora se usem por vezes as letras CH ou apenas H.
2.3.Princípio de individualização do doente
Na perspectiva hahnemanniana, não existem propriamente doenças, mas doentes. Sendo toda doença individual, todos os sintomas têm importância, pois traduzem a reação individual do doente. É indispensável individualizar a doença e a forma que ela reveste no sujeito considerado. Conseqüentemente, cada forma clínica é ao mesmo tempo uma forma terapêutica. Embora todos os sintomas sejam importantes, não deixa de ser necessário avaliar a importância peculiar de cada um deles e, eventualmente, sua significação especial no conjunto.
2.4. Individualização do remédio
Se a doença exprime seus caracteres pelos sintomas que provoca no homem doente, é por aqueles que provoca no homem sadio que o remédio exprime os seus efeitos.À imagem da doença corresponde uma contra-imagem do remédio. As características do remédio são obtidas pela experimentação no homem sadio.
3.Evolução da homeopatia
Ainda em vida do mestre, mas, sobretudo, após sua morte, os discípulos de Hahnemanndivergiam quanto à atitude a adotar frente à medicina dominante: os 'puros'defendiam uma orientação exclusivamente homeopática, enquanto os 'ecléticos'eram favoráveis à utilização de outras terapêuticas, sempre que necessário.
Se bem que continue sendo uma corrente minoritária dentro da medicina contemporânea, a homeopatia, favorecida por um renascimento do hipocratismo,tem obtido nos anos mais recentes uma audiência crescente. Os autores homeopatas assinalam mesmo uma convergência entre as suas concepções fundamentais e as principais descobertas da medicina moderna oficial, pondo ao mesmo tempo em relevo o uso diferente que fazem dessas descobertas.
A vacinação, as curas realizadas com princípios extraídos das próprias manifestações patogênicas, os antibióticos (em homeopatia, substituídos pelosnosódios e bioterápicos, simples ou complexos), os tratamentos de alergias baseados em específicos individuais, aparentam-se ao princípio da similitude hahnemanniano. Quanto à atenuação da substância medicamentosa, os homeopatas observam que a medicina clássica faz hoje uso corrente de diluições elevadíssimas.
4.Conclusão
De toda esta explanação depreende-se que a homeopatia, como tal, não está associada ao Espiritismo nem a alguma corrente "mística".
O tratamento homeopático é compatível com a fé católica. Há mesmo muitas pessoas genuinamente católicas hoje em dia que se tratam pela homeopatia. Se os espíritas privilegiam tal tratamento, isto se deve a interpretações pessoais não obrigatórias.
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