Trecho de entrevista de São Josemaria Escrivá, Fundador do Opus Dei, concedida a Pilar Salcedo, Diretora da revista feminina Telva (Madri, Espanha), em 1º de março de 1968.
Continuemos, se não se importa, com a juventude. Através da seção "Gente jovem" de nossa revista, chegam-nos muitos de seus problemas. Um, muito freqüente, é a imposição que às vezes os pais fazem no momento de determinar a orientação dos filhos. Isto sucede tanto na orientação relativa ao curso ou profissão como na escolha de noivo, mais ainda, se se pretende seguir o chamado de Deus para uma vida dedicada ao serviço das almas. Haverá alguma justificação para essa atitude dos pais? Não será uma violação da liberdade, imprescindível para chegar à maturidade pessoal?
Em última instância, é claro que as decisões determinantes do rumo de uma vida, deve tomálas cada um pessoalmente, com liberdade, sem coação nem pressão de espécie alguma.
Isto não significa que ordinariamente não seja necessária a intervenção de outras pessoas. Precisamente porque são passos decisivos que afetam a vida inteira e porque a felicidade depende em grande parte de como se dêem, é lógico que requeiram serenidade, que se evite a precipitação, que exijam responsabilidade e prudência. E uma parte da prudência consiste precisamente em pedir conselhos. Seria presunção — que se costuma pagar caro — pensar que podemos decidir sem a graça de Deus e sem o calor e a luz de outras pessoas, especialmente de nossos pais.
Os pais podem e devem prestar aos filhos uma ajuda preciosa, descobrindo-lhes novos horizontes, comunicando-lhes a sua experiência, fazendo-os refletir, para que não se deixem arrastar por estados emocionais passageiros, oferecendo-lhes uma apreciação realista das coisas. Umas vezes, prestarão essa ajuda com seu conselho pessoal; outras, animando os filhos a recorrer a outras pessoas competentes: a um amigo sincero e leal, a um sacerdote douto e piedoso, a um perito em orientação profissional.
Mas o conselho não tira a liberdade: dá elementos de opinião; e isso amplia as possibilidades de escolha e faz com que a decisão não seja determinada por fatores irracionais. Depois de se haver escutado os pareceres de outros e de se haver ponderado tudo bem, chega um momento em que é preciso escolher; nessa altura ninguém tem o direito de violar a liberdade. Os pais devem precaver-se contra a tentação de se quererem projetar indevidamente nos filhos — de construí-los segundo as suas próprias preferências —; devem respeitar as inclinações e as aptidões que Deus dá a cada um. Se há verdadeiro amor, isto, em geral, torna-se simples.
Inclusive no caso extremo, quando o filho toma uma decisão que os pais têm fortes motivos para julgar errada e até para prever nela a origem de uma infelicidade, a solução não está na violência, mas em compreender; e — mais uma vez — em saber permanecer ao lado dele, a fim de ajudá-lo a superar as dificuldades e, se necessário, ajudá-lo a extrair desse mal todo o bem possível.
Os pais que amam deveras e procuram sinceramente o bem de seus filhos, depois dos conselhos e das considerações oportunas, devem-se retirar com delicadeza para que nada prejudique o grande bem da liberdade, que torna o homem capaz de amar e servir a Deus.
Devem lembrar-se de que o próprio Deus quer ser amado e servido com liberdade, e respeita nossas decisões pessoais; "Deus deixou o homem — diz a Escritura — nas mãos do seu livre arbítrio" (Eclo 15, 14).
Umas palavras mais para me referir expressamente ao último dos casos concretos expostos: a decisão de dedicar-se ao serviço da Igreja e das almas. Quando pais católicos não compreendem essa vocação, penso que malograram na sua missão de formar uma família cristã; que nem sequer são conscientes da dignidade que o cristianismo dá à sua própria vocação matrimonial. Além do mais, a experiência que tenho no Opus Dei é muito positiva.
Costumo dizer aos sócios da Obra que eles devem noventa por cento de sua vocação a seus pais, porque os souberam educar e os ensinaram a ser generosos. Posso garantir que na imensa maioria dos casos — praticamente na totalidade —, os pais não só respeitam mas também amam essa decisão dos filhos, passando a ver a Obra como uma ampliação da sua própria família. É uma das minhas grandes alegrias e uma confirmação mais de que, para sermos muito divinos, temos de ser também muito humanos.
Atualmente, há quem defenda a teoria de que o amor justifica tudo, chegando à conclusão de que o noivado é como um "matrimônio em experiência". Pensam que é inautêntico e retrógrado não seguir o que consideram imperativos do amor. O que acha desta atitude?
Acho o que deve achar uma pessoa honesta e, especialmente um cristão: que é uma atitude indigna do homem e que degrada o amor humano, confundindo-se com o egoísmo e com o prazer.
Retrógrados, os que não pensam ou não procedem dessa maneira? Retrógrado é antes quem retrocede até à selva, não reconhecendo outro impulso além do instinto. O noivado deve ser uma ocasião para aprofundar o afeto e o conhecimento mútuo. E, como toda a escola de amor, deve estar inspirado não pela ânsia da posse, mas pelo espírito de entrega, de compreensão, de respeito, de delicadeza. Por isso, há pouco mais de um ano, quis oferecer à Universidade de Navarra uma imagem de Santa Maria, Mãe do Amor Formoso, para que os rapazes e moças que freqüentam aquelas Faculdades aprendessem dEla a nobreza do Amor — do amor humano também.
Matrimônio em experiência? Sabe bem pouco de amor quem fala assim! O amor é uma realidade mais segura, mais real, mais humana: algo que não se pode tratar como um produto comercial, que se experimenta e depois se aceita ou se joga fora, conforme o capricho, a comodidade ou o interesse.
Essa falta de critério é tão lamentável que nem sequer parece necessário condenar quem pensa ou procede assim: porque eles mesmos se condenam à infecundidade, à tristeza, a um afastamento desolador, que padecerão logo que passem alguns anos. Não posso deixar de rezar muito por eles, de amá-los com toda a minha alma e tratar de lhes fazer compreender que continuam a ter aberto o caminho do regresso a Jesus Cristo; e que, se se empenharem a sério, poderão ser santos, cristãos íntegros, pois não lhes faltará nem o perdão nem a graça do Senhor. Só então compreenderão bem o que é o amor: o Amor divino e também o amor nobre; e saberão o que é a paz, a alegria, a fecundidade.
Olá!
ResponderExcluirIndiquei teu blog ao Selo Sunshine Awards:
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William Murat